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Cultura das Rezadeiras

Um dos desdobramentos do projeto de pesquisa “Valorização de culturas locais por meio da Etnomodelagem e suas relações com o Ensino da Matemática”, aprovado na Chamada CNPq/MCTI Nº 10/2023 – Universal. Com financiamento do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é colocar em tela uma cultura das rezadeiras, em territórios quilombolas da Chapada Diamantina, na Bahia.

As Rezadeiras fazem parte de uma cultura muito comum em algumas regiões do estado da Bahia, em particular destaca-se sua influência no Recôncavo Baiano e na região da Chapada Diamantina, onde foram obtidos os resultados apresentados nesta pesquisa. Elas buscam, por meio das benzeções e indicações de chás, intermediar a cura de pessoas acometidas com alguma enfermidade.

A dissertação “Etnomodelagem e cultura: uma investigação sobre as narrativas de rezadeiras quilombolas e sua relação com os saberes matemáticos acadêmicos”, de autoria de Jailda da Silva dos Santos, sob orientação da Professora Dra. Zulma Elizabete de Freitas Madruga, está vinculada a este projeto, que conta com a colaboração do Professor Dr. Tiago Rodrigues Santos.

A seguir, acompanhe algumas das ações realizadas em campo, e conheça a Cultura das Rezadeiras de comunidades Quilombolas do município de Bonito, Bahia.

 

Visitas nas comunidades Quilombolas de Bonito – BA

 

O Bonito é um município da Bahia, situado a 454 km de Salvador capital do estado. É o quinto município do Brasil com mais de 50% da população que se autodeclara quilombola e atualmente possui 17 comunidades certificadas pelas Fundação Cultural Palmares.

Dentre as 17 comunidades, pude visitar a comunidade de Cabaceira do Brejo e Catuabinha, popularmente conhecida por Catuaba. Conforme os moradores locais, Catuaba é a comunidade com mais habitantes do município, tendo quase 7 mil habitantes, aproximadamente 44% da população total da cidade.

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Me. Jailda da Silva dos Santos

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de Professores (PPGECFP)

Orientada pela Prof. Dra. Zulma Elizabete de Freitas Madruga, esta pesquisa, que busca responder de que forma as narrativas de algumas rezadeiras quilombolas do município de Bonito-BA podem contribuir para o processo de ensino e aprendizagem de Matemática, tendo como base a Etnomodelagem, tem como objetivo principal identificar, por meio das narrativas de rezadeiras quilombolas, os possíveis saberes matemáticos existentes no ofício das rezas praticadas em comunidades quilombolas do município de Bonito-BA e como estes podem ser traduzidos para uma linguagem matemática acadêmica. Inicialmente, realizaram-se estudos acerca das teorias que suleiaram a escrita desta pesquisa, sendo elas: Etnomatemática, Modelagem Matemática (MM) e Etnomodelagem, sendo esta última a base teórica que permite a conexão entre os saberes tácitos da cultura investigada e os saberes matemáticos estudados em sala de aula, permitindo um diálogo intercultural. Discutiu-se, também, como as três abordagens da Etnomodelagem podem se relacionar com as três etapas da MM concebida como um método de ensino. Ainda, realizou-se um mapeamento de pesquisas acadêmicas, buscando investigações que discutem a Etnomodelagem, por meio da apresentação de propostas de ensino para a Educação Básica. Esta pesquisa possui uma abordagem qualitativa e, para produção de dados, foram realizadas entrevistas narrativas com oito rezadeiras de comunidades quilombolas pertencentes ao município de Bonito-BA. Os dados obtidos com as narrativas foram analisados com base na Análise de Conteúdo, emergindo desta análise três categorias intituladas: A prática das rezas e a relação com o sagrado; Saberes que curam: uma herança ancestral e cultural; e Investigando a Matemática presente na prática das rezas. Nestas categorias, discutiu-se sobre a relação das rezas com a religião, os instrumentos utilizados em cada tipo de reza e como os rituais deste ofício podem ser relacionados à matemática ensinada em sala de aula. Como possibilidades de ensinar

alguns conceitos matemáticos a partir do ofício das rezas, foram apontados conceitos matemáticos identificados pela pesquisadora e que podem ser incorporados ao processo de ensino e aprendizagem de Matemática nas unidades de ensino, em particular naquelas inseridas em comunidades quilombolas, a saber: i) construção e interpretação de gráficos estatísticos tendo como população de amostra as rezadeiras locais; ii) indicação de chás e a relação com medidas de capacidade; iii) instrumento utilizado na reza e sua relação com medidas de comprimento; e iv) numerais multiplicativos com base na repetição de palavras e a quantidade de ramos utilizados nas rezas. Isso permite-nos compreender a existência das (Etno)Matemáticas e suas contribuições para a construção de novos conhecimentos, aguçando a criatividade e criticidade nas aulas de Matemática. Ademais, construiu-se uma História em Quadrinhos (HQ) com o intuito de ilustrar os diálogos estabelecidos com as rezadeiras durante a visita de campo, e como estes colaboraram para que a pesquisadora visualizasse possibilidades de ensinar Matemática a partir do ofício das rezas. Ainda, vislumbra-se a sua distribuição nas unidades de ensino das comunidades investigadas e para as rezadeiras colaboradoras, como forma de mostrar a sua contribuição para esta pesquisa, e como os seus saberes podem ser apresentados em sala de aula.

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A primeira visita ocorreu durante uma semana de 24 de julho de 2023 a 26 de julho de 2023. Na oportunidade, conversei com oito rezadeiras e dois rezadores, sendo um deles da religião de Matriz Africana. Durante as visitas e diálogos, percebeu-se que há um receio das rezadeiras em serem associadas a curandeiras ou pessoas adeptas a religião de matrizes africanas.

Durante as narrativas percebeu-se que as rezas é uma tradição muito forte na região do Bonito. Tanto as rezas benzidas quanto a rezas cantadas. São tradições culturais que caracterizam o município e que precisam ser mais valorizadas. Tendo em vista a importância da implementação efetiva das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, por meio destas tradições acredita-se que seja um dos primeiros passos que auxilie no resgaste dos saberes africanos e dos saberes produzidos localmente.

No que tange as rezas benzidas, todas as rezadeiras e rezadores são bastantes procurados para auxiliar na cura de alguma enfermidade. As mais comuns são o olhado, vento caído, dor de cabeça, do de barriga e espinhela caída. Mas além dos dizeres também são indicados chás, xaropes ou garrafadas que são produzidos com as ervas medicinais cultivadas em sua maioria nos quintais das rezadeiras/rezadores.

Cultivo das ervas medicinais

Rezadeiras/rezadores entrevistadas (os)

Além das visitas também participei de momentos formativos com gestores e coordenadores da rede municipal de ensino. Esta ação visa promover a Educação Escolar Quilombola no munícipio, com vista a desenvolver práticas pedagógicas que versem sobre os saberes culturais do município. Aproximando os saberes acadêmicos das realidades dos estudantes.

Bem como, a promoção de uma Educação Antirracista. Pois, como já mencionado há uma repulsa das pessoas em serem associadas a adeptos da religião de matrizes africanas. Além de muitos não se reconhecerem quilombolas, por não entenderem a importância e luta que muitos tiveram para garantir os direitos que eles possuem hoje.

Iniciativas como estas contribuem para que o preconceito de raça, cor e intelectualidade diminua. Pois, como conta a história não há contribuição do povo Negro para a civilização. Uma ideia errônea. Já que muitos dos saberes e resultados que hoje temos e utilizamos não somente na área da Educação originaram-se em territórios africanos.

Formação com gestores e coordenadores da rede municipal de ensino de Bonito - BA

A segunda visita a Bonito – BA aconteceu entre os dias 16 e 17 de agosto de 2024, nesta também participei de um momento formativo na comunidade quilombola de Guarani com coordenadores e gestores da rede municipal de ensino. Na oportunidade, discutiu-se sobre os avanços do Projeto Politico Pedagógico (PPP) das unidades de ensino.

Além do breve estudo sobre o A Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ), o qual que tem como objetivo implementar ações e programas educacionais voltados à superação das desigualdades étnico-raciais e do racismo nos ambientes de ensino, bem como à promoção da política educacional para a população quilombola.

Formação com gestores e coordenadores da rede municipal de ensino de Bonito - BA

Nesta formação também houve a exposição de alimentos produzidos pelos moradores quilombolas da comunidade, como morango, corante, cana de açúcar entre outros. De artefatos utilizados pelas pessoas mais velhas, como quarta de farinha, ferro de passar a vapor e panelas de barro. Também houve apresentação do grupo de rezadores que realizam a reza das almas e dos jogos africanos (matacuzana) que está sendo ensinado as crianças na unidade de ensino.

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